sábado, 11 de abril de 2009

Banheiros pavorosos

Ainda de cara amassada, cheguei à conclusão de que meu maior (meu conceito de unanimidade é absurdamente patético) medo é me tornar uma quarentona casada, cheirando ao travesseiro encardido e regugitando em cima de qualquer um porque o tapete do banheiro está ligeiramente molhado e emaranhado. Tenho mais medo disso do que a banheiro fedendo, obssessivamente, a desinfetante. Afinal, todos os cheiros não enlatados serão pavorosos. Mais do que eu. Que merda. Na flor da minha juventude eu estou me sentindo uma arcaica estúpida, sem que nada que eu diga não seja insuportavelmente repetitivo e obsoleto. Tão é bagunçando tudo e não são os ponteiros, na verdade são as leis de funcionamento, eu vi, eu vi, eu vi, tudo, absolutamente tudo. Ainda existes os raios catódicos? Eu não suporto mais essa idiota idéia de afinar tudo, caralho. Não suporto mais essas telinhas irritantemente frágeis. Nem essas mulheres exacerbadamente em série. Não. (Francamente, a única coisa que eu deixei de aguentar há tempos são as precocemente embrutecidas solas dos meus pés). Além dissso, eu tô farta de me calar (fico impressionada com as minhas novidades cheirando a mofo). Farta desses parênteses também. Quero entrar numa fase travessão. Mas sem os cansados dois pontos antes. Atravessão? Chega dessas vozinhas esmiuçadas. Senão, no apocalipse, eu só adorarei à fragância de eucalipto. Ou de jasmim. Ou de qualquer outra coisa absolutamente genérica, digestiva, empilulada: passável.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Tuas Horas.

Tempo tem passado sem passado, em passar ainda estranho, mais rápido, menos corrosivo. Suavemente, às escondidas, despercebido, nada sofrido. Resíduos umbilicais bagunçaram ponteiros e distâncias. Até o paladar, senão dirá em próprio corpo. Não mais sente-se: Vê. Encontrando-se preso, as nuvens a andar e a Terra a par a parar, enquanto o fenômeno natural é axioma inverso. Qualquer esquizofrenia cotidiana não saíria assim, pela porta social, a olhar sua cara cansada e pálida estampada no descarado espelho do elevador, pelo ilustrador corriqueiro cheirando a entrega particular, a preguiça moderna, a estática vida de frenético e desenfreado movimento da metrópole. Era claro, nítido, cristalino, pudera límpido. E saiu. Saiu pela porta social, desceu calmamente o elevador, olhou tranquilamente os ponteiros do relógio central passarem, dançarem, recuarem, trépidos, trêmulos, medrosos, covardes, foragidos, coagidos. Façanha. Não haveria tamanha liberdade assim, descer escadas, pular muros, invadir tão próspera propriedade e tão corrompida conseguinte família monogâmica sutil, educada, de tamanha cortesia. Haveriam de inovar, inventividades sem tamanho, maravilhas espetaculares, porém haveria um limite, ou ao menos uma sequência consciente? A vista seria familiar por mais que distante, por mais que assutadora. Não haveria de emaranhar conclusões fulgazes de horas de relexão incognoscível, cíclica, carcereira, enfadonha. Não era possível. E os sinais? Semáforos? Faixa de pedestres? Símbolos, símbolos e símbolos, sim!
Simbologia? Engoli.
Pílulas diárias, castração e prostração, horas de arroxeamento vil, personagens atrozes, dançarinos antenados, atores momentâneos. Estendia a mão, rogava pelo pão, implorava aos olhos. Aqueles petrificados de páginas emboloradas de alguns já seculares meses atrás. Angústia. Palidez. E, como numa gradação de tamanha sutiliza que quase despercebida, atingiu ao clímax real em enredo fictício, impune por gerar tantos delírios e ilusões ao cotidiano já torporizado. Evoquei-me. Pudera viagem astral. Delírio onírico. Demagogia! Demagogias. Não passam disso. Despe-se Desejo, transveste-se Realismo. Pois não? Tudo gulosas pupilas, a engolir olhos, segurar cajado, machado, conduzir boiadas em pastos, perdidas e imóveis a caminho do já traçado desfecho. Fecha-se em pétala, abre-se em botão. E ao desabrochar, já não fura: Atravessa. E agora: Seis da tarde, horário de verão. Passava assim, verdadeiras dunas de duas, duras, puras? Tuas Horas.