terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Mudos monólogos.

Mamãe, o que é aquilo no chão, mamãe? Mamãe, papai não é assim. Mamãe, me responde, mamãe, que criança é essa que parou no nosso carro? Mamãe, responde, mamãe. Por que não fala nada? Por que se calou, mamãe? Desistiu? Mamãe, me diz o que fazer pra ser menina, mamãe? Tem que ser magra que nem a Gisele? Tem que vestir igual à revista? Tem que sorrir pra entrevista? Mamãe, tem que passar isso aí no rosto? Tem que se pintar, mamãe? Esconder? Não pode falar? Nem pensar? Concordar? Fala comigo, mamãe. Mamãe, o homem tá sujo, o moço tá cego. O mundo tá surdo? Você tá muda? Mas nada muda aqui, mamãe. Mamãe? Me conta, só conta, mamãe. É a conta do papai? Mamãe, o homem tá chorando, a criança esbravejando, o tempo passa rodopiando. E você só se calando.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Carne transverte em Lúcifers

homem em pé
anjo falido

corpo ri sem graça
alma gira em desgraça

áurea respira caça
ânima suspira escassa

Caixas





Sigo nesse Caos mundano,
Persisto na estaticidade do leito humano.

Então livre-me dessa movimentação desordenada
Que me fartei dessas falsas multidões,
Coletivas solidões,
E seletivas paixões.

Cansei-me do falatório aleatório,
E do marchar organizado,
E do devoto contraditório.

A mim bastam essas luzes.
Vou fechar as cortinas da espetacularização,
Embriagar-me nas coxias dos sonhos
E assim fatigar-me tão e somente
do emanar onírico.

sábado, 24 de janeiro de 2009

O que amedronta são os olhos.




É menino arrastado. É menina defenestrada. É pai que esquece filho no carro. É gente que esquarteja criança. É pai que estupra e esconde filha no porão. O plantão da Globo tocou sua musiquinha, atenção à telinha, é desgraça mais uma vez! Foi assalto ao banco. Foi crime organizado que fez de refém o filho da juíza.
É mais um espetáculo a encher atenção coletiva.

Mas o que amedronta já não é mais menino que fuma pedra. E nem menina que passa cinco horas no salão depois de banho de loja. O que dói é menino que fuma pedra enquando menino joga video-game. Mas o que amedronta não é isso. O que amedronta são os olhos. Assalto à mão armada já não assusta mais, é mais uma bala disparada em ditos inocentes, é mais negro na penitenciária, é mais moleque da favela sendo esculaxado por Polícia. É mais estatística, é mais um número computado. Mais um número pra fazer sensacionalismo em jornais e TV e escandalizar mocinhas e entristecer donas-de-casa. Mas o que amedronta mesmo são os olhos. Os olhos do menino que segura a arma. Os olhos do menino já não chamam por cuidado. Já não clamam por amor ou por atenção. Clamaram mudos, rogaram surdos, tremeram atrofiados. Já não derramam lágrimas, já não suam frio, secaram. Acinzentaram. Os olhos fizeram-se pedras rígidas, embrutecidas por sucessivo descompasso e afetos soterrados. A boca grita e ruge, ouvidos são atentos aos mínimos ruídos, mas os olhos já não sabem para quê olhar. Seguem apenas fixos, imóveis, num torpor amorfo. São expressivos, são misteriosos, apontam desconhecida direção de anseios reprimidos em pauladas e cacetetes. Mas são estáticos. Parecem vidrados. Parecem hipnotizados. Parecem até causais. Longe de ser convicto ou inabalável, o que amedronta é que o olhar segue cravado e inalterado.

O antecedente de cena de jornal foi clamor ignorado.
E a sucessão de olhar acinzentado?

Brasa Brasileira



O pé descalso
Soa no compasso cotidiano,
ilustra o descompasso costumeiro.

Equilíbrio (í)lógico,
Do que come e vomita,
Hidratra e seca,

Engole e cospe,
Rumina e regugita,
Fere ou é ferido.

As mãos secas e ásperas,
Seguem o repetido eco,
Tateiam a ilusão de um futuro incerto e inóspito.

Páginas da comtemporaneidade,
Afastadas da modernidade,
Marginalizadas do capítulo principal.

Olhos seguem mudos,
De Ouvir atrofiado,
Despido e enganado.

Aonde soa, Filosofia Contemporânea?
Era informacional a pender tanta informação...
A alijar a toda formação...

E soa familiar,
Páginas de jornal velho,
Canibalismo pós-moderno.

Em contradição colonial, o interior é marginal:
E as Brasas do meu Brasil,
Ainda Braseiam mil...

Geme de Loucura e de Torpor




confundem-se ruídos, misturam-se sensações, já não se sabe ao certo o limite de cada uma das. falsas ilusões derrubadas à brasa da verdade, sorrateiras visões turvas convertidas em horas de preguiça e prostração, sólidos prazeres convergidos a instáveis ápices de alegria fulgaz. a espera de atitudes que não existem, o anseio em criar algo que não se faz presente ali, a fuga capaz de gerar caminhos alternativos. que sejam, que hão. são fugas, são medos, são menos, não se fazem dignos. a palavra ríspida, a frase violenta à ferida purulenta, a letra que fere sem nítido porquê, a dúvida que surge em dúvidas de afirmação infértil. egoísmos humilhadores, a posse do que não lhe é verdadeiramente, a farsa ao acordar de manhã e dizer um gemido de bom dia. o excesso de açúcar no café refletindo a falta de doçura em sua própria realidade, o exagero ao salgar representando a falta de condimentos para si. incoeso, ralo, barato e nem ao menos fétido. o descompasso do olhar que segue, a não clareza da palavra que profere, a sórdida náusea ao fundear aquilo que sempre te pertenceu. dúvidas emaranhadas em complexos-nós presos e amortecidos na garganta. sentido construido a partir da ausência de identidade interior, falso hino escorrido da boca, falsa presa acolhida em selva, falsos versos aclamados em urros de dor costumeira.


"geme de preguiça e de calor.
geme de prazer e de pavor.
já é madrugada:
acorda, acorda, acorda..."

Frequência




Me inspirei,
despi, servi, vendi, rendi..
comprei.

Paguei caro.
E sabe o que tem?

É cheiros.
gostosos,
gosmosos, plastosos,
gozados.

Esse cheiro não me sai.
Engoli para poder vomita-lo, cheiro fresco.
Cheiro úmido fruto de atos reificados,
verdadeiros hipócritas devotos do prazer
e dor conseguinte,
expreminte.

Icterícia antes fosse.
Pelo menos teria cor:
Amarela.

“Amarelo das doenças, das remelas, dos olhos dos meninos, das feridas purulentas, dos escarros, das verminoses, das hepatites, das diarréias, dos dentes apodrecidos... Tempo interior amarelo. Velho, desbotado, doente."

Antes fosse doença certeira.
Morrera depois de febre perturbada,
causa de lírios e suores.

Até avermelhar para sair o último gole que ainda se não esvaia
E não.

Até o final para ver se esvazia...
E vazio é tudo, sai até Bile,
só não sai o cheiro.
Mentira.

O cheiro fica, persegue,
morte em vida que zumbi na orelha
língua fina e pegajosa que se emaranha e amontoa vulgarmente.

É mais que nojo.
Dá ojerizas.
Faltam-lhe os calafrios.

Entrei para poder ver sair,
soa dubiamente ridículo.
E agora?

A única volta vejo essas seqüelas
Marcas e cheiros que aqui habitam.

Voltas curvas, tensas, tesas.
Marcha sem letra.
Pobre, podre e desidratada.

Saiam de mim,
se esmiúcem por aí,
fodam-se.

Merda.
Fecha-se o ciclo.


Mas olhe!
Como é bom!!

Sobrou-me um picolé e alguns chicles de bola.

Ê, Cidade



Ê, Cidade. Disparidades seculares amontoadas em janelas de frequências distintas. Antagonismo urbano explorado e invasivo, é descompasso subjetivo, estampado e vendido em série, em massa. Tuas encruzilhadas apontam caminhos distintos, de mesma direção e diferentes sentidos. A luz que iluminaria ofusca e engana olhares inferiorizados como condição circustancial. Fotografia primordial, vaga que se retira da personalidade, a traçar caminhos atitudinais conformes. Ê, Cidade. Sinto saudade, sinto carência, escolhe-se avesso, recebse-se dor. Senti calor, sinto frio, tua brasa já não me queima, nem teu calor me esquenta. E assim com teu manancial a mim secou, teu céu estrelado apagou. Tuas multidões já são vazias, teus espelhos, quebrados, tua palavra, pouca, e tua poesia.. tornou-se rouca. Tuas cores transvertiram em fardas, tuas ruas em passarela, tua esperança já perdida em sonhos envelhecidos. Ê, Cidade. Berço e terreno da Desigualdade, desarmonia verdadeira, calor fulgaz, escuridão derradeira. Que falta me faz teu aconchego! Ah, disparidades! Ainda há identidades? Essa luz a espalhar o terror, espanta meu medo, ao oscilar presente, afugenta mil a atrair outros tantos. Ê, Cidade. Concretização do paradoxal, do antagônico, o que erguestes, em que se apoiara? Febre urbana em rede, febre urbana em rede... harmonizada em Hundertwasser? inflamada em outros tantos nessa multidão boiada, caminhando a esmo...

Reflexões para Babel






(Segundo o que narra o primeiro livro da Bíblia, Gênesis, a humanidade teria se unido para construir uma torre que chegasse ao reino dos céus. Essa torre era Torre de Babel. Deus, porém, ao ver que os pobres mortais ansiavam chegar a Ele, planejou para confundir a linguagem humana e fez com que cada homem a trabalhar na construção da Torre falasse uma língua diferente. A dificuldade de comunicação acabou com o trabalho humano na Torre de Babel.)



Babel, hoje vejo tua nova dança.
ainda tentas teu velho anseio reprimido.
ainda tentas dedilhar àquilo a que foste privada.

queres ainda um pedaço daquilo a que foste tirada?
sê tu concretização pioneira de vaidade humana?
sê tu poesia concreta da primeira possível realização de uniãode homens que falavam a mesma língua?

quiseres ser grande demais, Babel.
houve um deus que a isso não permitiu.
confundiu línguas, multiplicou linguagens,
atrofiou trabalho às tuas criaturas para que não pudessem atingir ao reino dos céu
santes de seu dito juízo final.

porém, Babel, os tempos mudaram.
nessa dança contemporânea,
esse deus hoje troca seu filho com humanos.

ele jogou seu filho na Terra para pagar pecado humano.
hoje ele o troca aos homens por uma dita salvação.
por um espaço no reino dos céus.

Babel, se não foste tua derramar diferenças,
a instaurar confusão
o que haveria, Babel?

discrepâncias linguísticas não impediram-te.
ainda soubes driblá-lo, ainda sabes, ainda sobes.
e multiplicou-te!

sobes vertical, mais alta do que nunca...
sobes em satélites, somes em aviões.
confunde hoje tu aos olhos de deus,
de um deus que não mais confunde aos olhos teus.

a que anseias ainda, Torre de Gênesis?
caladas não foste por um deus medroso!
deus temeu tua Ira.
deus temeu teu crescimento.
mas de Ira nutriu-te,
fê-la mel suculento a teu condicionamento.

e hoje cresces mais.
e hoje alcanças estrelas,
e hoje trocas informações com outras constelações.
permites aos sonhos voarem pela janela entreaberta
para aquele deus não ver que saiu.

hoje faz-se dura poesia concreta a cada esquina.
hoje, Babel, abrigas a tantos...
tantos ainda desesperados
a chegarem ao reino dos céus...

alguns destes também trocam seus filhos, Babel.
como deus.
uns vendem, uns doam, uns compram.
mas todos trocam, Babel.
como papai ensinou-lhes.

Babel,
creio que Capitalismo começou a ser teorizado em Mateus. e continuou em Marcos, Lucas e João: santíssimo quarteto do Evangelho. Consolidou-se na historiografia de Atos, desenvolvendo-se nas Epístolas Paulinas e Católicas. clímax com Judas e o final é profético em Apocalipse.

Porém o Medo...
este começou em Gênesis.

O Medo começou no Princípio.
E era Verbo.
E o Verbo se fez Carne.

Sentidos




fluxos envolvem, atenção dilui, fundem-se movimento, cor e som.
presa já não estou, em presa converti, em pressa abrangi.
velocidade desgovernada e freio parece esquivar.
para onde vão?

direção desconhecida, dúvida alarmada.
pêlos eriçados e olhos envergonhados.
o ouvido aguçado a procurar ruídos familiares e nada encontrar.
para onde vai?


placas seguem a apontar caminhos, mas são alheios.
o volante segue à mão estranha e o coração dispara.
olhar espanta, boca entreabre.
o vento que conduz cega.
para onde vou?

O REI ESTÁ NU



" - Desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nu."

Dança contemporânea




Passa dia, conta mês
Passa hora, conta o passo...

Acorda e olha pro céu chuvoso,
escova os dentes, lê a tragédia matutina.
Olha ao relógio, está atrasado, apressado, acossado e sonolento.
Os ponteiros ultrapassam, é corrida selvagem, é Cruzada pós-moderna.

Terno para passar, café frio para beber, pão velho para comer.
Os ponteiros adquirem uma dimensão surreal, vencem e correm e batem, batem.

Agora é fila no metrô,
Espera no ponto de ônibus. Espera no ônibus. Espera no ônibus.
O Trânsito e os ponteiros...
Mais passos e mais passageiros...

O dólar subiu, as ações caíram,
a América tá em crise e a Guerra continua.
- Isso é Capitalismo, é Canibalismo.
Mas, ora, quanta besteira, quanta baboseira,
modernos são os tempos em que posso pagar meu restaurante no cartão.

E cala-se com o feijão, engole a salada,
olha para a mulher, não olha para si.
Mal mastiga a carne, engole arroz, mal deglute o purê.
Já é tarde para espelhos que se quebraram.

Volta e é rotina que engole cotidiano,
É hora que cospe passo,
É dinheiro que vomita sentimento.

O horário é de rush,
Fila grande e descompasso maior.
Cansaço toma o corpo e adormece entre uma estação e outra.

Liga o microondas,
Nem mastiga, só engole.
Nem suspira, só engole.
Nem pergunta, só engole.

Já não resta mais medo, não resta mais pesadelo,
o noticiário foi desligado.
E qualquer anseio momentâneo afogado no travesseiro de noites insones.

Passa vida, passa...
e quê?

Lembranças




Reviro-me ao lembrar,
Pasmo-me ao acreditar,
Anseio renunciar.

Esforço a esquecer,
Antigo padecer,
Grande ditador.

Estático sigo,
Olhos vendados,
É pura paisagem.

Situação ignorada,
Memória socada,
É Prozac da Dor.

Escuridão por opção:
Sorriso estancado,
Tem-se o débito estampado.


Ah, as Lembranças...
são fragmentos paradoxais.

AmaDureCer



Tenho sido
parecido palecido,
enrigecido endurecido,
estremecido amortecido,
torcido e retorcido

escorrido...

RASGADO.

Esse tal Vestibulando...

Eu tava concluindo minha 30ª hora de minha vida fazendo um vestibular pra valer. E essa baboseira toda de matéria-dada-matéria-estudada ou enquantovocêdormeumjapaestuda ou até eu-pago-novecentospaus-por-mes-nesselixo-e-nãoaprendonadaderealmenteimportante estavam a se conflitar, como sempre. É claro que aquela redação foi boa, ou aquela sacada na prova de Química, mas quem sabe se eu não tivesse errado aquela dos presidentes da República Oligárquica, aqueles tais do Café-com-Leite e tudo mais... E esse lixo todo de tipos de Caules que vá ao inferno! E trate de levar os números complexos também! Ah! Onde é que já se viu? Toco fogo nessa apostilinhamaldita que inundava de confusão minhas prateleiras. Para quê, Unicamp, para que diabos de quê está a me cobrar sobre os xilemas? Isso refletindo sobre a cobrança momentânea. Agora imagine o quanto não sofreu esse tal vestiubulando pensando na possibilidade de ser cobrado a respeito de Solenóides ou rochas extrusivas? Mas que diaxo! Eu penso em ser uma antropóloga sabe, ou socióloga, ou sei-lá-o-que que não me exige tais conhecimentos, ora... E jesusmariajosé, como pensar em Conflitos na península do Cáucaso enquanto a Faixa de Gaza está em chamas e a Raposa do Sol ocupada por indígenas enquanto os latifundiários querem as terras? Café com Leite Contemporâneo!! Ainda resta o tal Acre, que já restou para Galvez e hoje sebe-se-lá a que resto foi reservado. Viva o Brasil das migalhas! Viva o quinto maior país do Planeta Água! Que por sinal ficará sem água, dizem por aí! Que por sinal evaporará devido ao excesso de CêÓDois e CêEfeCês na Atmosfera, resultando na destruição da Camada de ÓTrês e no Aquecimento Global e tudo mais! É assim, vomito conhecimentos, despejo informação. E o EstadosUnidosdaAmérica nem assinou o protocolo de Quioto. Cooperem com o homem, em vez de competir com a URSS durante a Guerra Fria em quem manda o primeiro homem à Lua ou quem sabe uma cadelinha! Laika! "Se informem, assistam e leiam notícias, vestibulando-deve-ser-informado"! Que merda toda de informação é passada! Você viu o caso Isabela? A menina do sequestro? O Ronaldinho e o travecão? Não?

AH, BASTA-ME!!!! EU ESTOU SATURADA DE MEIAS INFORMAÇÕES!!!