sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ah, minha Baiana..

a minha Baiana
tem a pele da cor
de areia da praia
na hora do Sol se pôr.

a minha Baiana
vai embora comigo
pra qualquer lugar
desde que tenha um céu colorido
e um belo luar.

a minha Baiana
vai fugir comigo
e a gente vai viver em paz
longe de toda essa peleja
fazendo amor como só ela faz...

a minha Baiana
de corpo todinho moreno
e um monte de trança no cabelo
na Bahia me enfeitiçou
e nessas tranças
me amarrou.

a minha Baiana
agradeceu pai Oxalá
e mamãe Yemanjá
e se amou comigo
numa Cidade de Luz
onde mora Santa Bárbara,
Oxumaré e Jesus.

a minha Baiana
me contou histórias do velho Omolu
me levou pros braços de Nanã
num delicioso fim de tarde
na Praia de Itapoã.

a minha Baiana
tem olho de fogueira
e corpo sinuoso de serpente
dança feito uma Deusa
é a preta mais linda da cidade
e nem precisa de vaidade...

a minha Baiana
sorriu comigo noites inteiras
dançou e cantou:
Kaô, a justiça chegou,
Xangô!

a minha Baiana
se amou comigo
na Praia da Preguiça
e com aquele perfume de Oxum
me envolvia feito areia movediça.

Ah, minha Baiana
seu corpo moreno...
seu olhar sereno...

me contou um segredo:
essa terra é a mãe de tantos encantos
porque fez-se da mistura de muitos prantos.
- Bem-vinda, minha nega, isto é Bahia de Todos os Santos!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Terra da Alegria

cada vez que eu olho
o céu dessa nossa bahia
terra de tantos santos
e encantos

eu tenho vontade
é de mandar tudo pro ar,
olhar pra esse mar
e me armar
só de amor.

terça-feira, 21 de julho de 2009

amadurecer, ama duro ser, duro de amar, duro de ser

são humores de rumores
carência
descontínua
experiência
e de insólita vontade
decadência
desimune
imprudência
desmontando fio a fio tal
essência
irônica
consciência
ciclo de busca
transparência
na incansável
maledicência
antagonismo narcoléptico
demência
impune
existência

minha insistente
displicência.

Ah, esse cara tem me consumido. a mim e a tudo que eu quis, com seus olhinhos infantis.

"e você, que vive paparicando as ciências humanas, nem suspeita que paparica uma piada: impossível ordenar um mundo de idéias, ninguém arruma a casa do capeta. Só um idiota recusaria a precariedade sob controle, sem esquecer que no rolo da vida não interessam os motivos de cada um - essa questãozinha que vive te fundindo a cuca - o que conta mesmo é mandar a bola pra frente, se empurra também a história co'a mão amiga dos assassinos; aliás teus altíssimos níveis de aspiração, tuas veleidades tolas de perfeccionista tinham mesmo de dar nisso: no papo autoritário dum reles iconoclasta - o velho macaco na casa de louças, falando ainda por cima nesse tom trágico como protótipo duma classe agônica... sai de mim, carcaça. Imaturo ou não, não reconheço mais os valores que me esmagam. Acho um triste faz-de-conta viver na pele de terceiros. A vítima ruidosa que aprova o seu opressor se faz duas vezes prisioneira.

... e?

e tem que isso me leva a pensar que dogmatismo, caricatura e deboche são coisas que muitas vezes andam juntas e que os privilegiados como você, fantasiados de povo, me parecem em geral como travestis de carnaval."




E dá-lhe Literatura Maldita!

domingo, 19 de julho de 2009

(Des)Ordem no meu Discurso alijado de circulação.

Eu ainda dormia. Feito pedra! Mas aquele falatório todo não dava para ser silenciado nem sob a força de meu travesseiro pressionando minha cabeça. Que merda. O que seria toda essa agitação? Deveria ser mais uma "Cãominhada" (!) ou, seilá, 10km Tribuna FM versão seja-saudável-você-também. Eu explodiria toda aquela merda. Uniformizados correndo em série, plastificadas andando em série, com seus cachorrinhos malditos... eu tinha certeza, tinha certeza de que era algo desse tipo. Algo amaldiçoando a praia, andando feito robôs pelas ruas. Desde cedo eu vejo isso. É o grande evento da cidade: 10Km Tribuna FM. O pessoal se prepara o ano todo, se bronzeia, acorda cedo, come umas merdas que eles pagam caro pra caralho e pensam estar sendo saudáveis, mas que na verdade não passa de bosta coberta com chocolate lightdiet, seilá. Aí eles desfilam lindos, musculosos, magros, secos, ah.. que saco, quero dormir, hoje é domingo e domingo anuncia a segunda-feira, iniciando mais uma semana sem nada de interessante e fodam-se essas roupinhas de ginástica.

"Ei, você aí, Jesus te ama até o Fim!"
"Ei, você aí, Jesus te ama até o Fim!"
"Ei, você aí, Jesus te ama até o Fim!"

Caralho. Fodeu. Acabou de vez.

"Ei, você aí, Jesus te ama até o Fim!"
"Ei, você aí, Jesus te ama até o Fim!"
"Ei, você aí, Jesus te ama até o Fim!"

Eram vários. Com banda e tudo! Trio elétrico. Estávam frenéticos! Eu me cutuquei e falei: "caralho! MARCHA DA FAMÍLIA COM DEUS PELA LIBERDADE!! Fodeu, eles voltaram." Aí eu me dei conta que não, eles não 'voltaram' coisa nenhuma. Eles tão é pegando a galera de jeito. Minha irmã começou a gritar: JESUS TE AMA! JESUS TE AMA! Todos os cantos começaram a falar SEM JESUS NÃO HÁ SALVAÇÃO! SEM JESUS NÃO HÁ SALVAÇÃO! E, caralho, eu pulei da cama desesperado, joguei água no meu rosto e no espelho tava escrito:

SIM, TUDO ESTÁ BEM, QUANDO SÓ SE BUSCA A VONTADE DE JESUS, JESUS TE AMA.

Eu tava ficando louco? Toda aquela Ordem do Discurso tava mesmo enozando minhas cabeças e a ordenação daquele discurso com verdades e poderes se interligando mutuamente, porra, o Deus desses caras estaria mesmo entre o conceito e a expressão? Eu fazia a barba e olhava minhas olheiras no espelho e me perguntava - Quem a Terra pensa que é? Quem a Terra pensa que é? Abria aquela porra daquele livro na Geologia da Moral e enfiava a minha cara naquele cemitério todo, enquando da minha imagem só restava: SIM, TUDO ESTÁ BEM, QUANDO SÓ SE BUSCA A VONTADE DE JESUS, JESUS TE AMA.
E eu tava lá, parado em frente ao espelho reunindo, redistribuindo, organizando todos esses poderes e perigos por sociedades proprietárias-monogâmicas-idólatras, e todo aquele vai e vem já me enjoava, eu meti a cara ra fora do meu ninho, vomitei minhas tripas em cima daquilo e eles continuavam lá fora: JESUS TE AMA! JESUS TE AMA! JESUS TE AMA! HÁ SALVAÇÃO EM CRISTO! E, porra, tavam controlado mesmo o que eu poderia dizer, olhava lá pra fora um bando enorme, uma manada, claramente amordaçada às punições na política e na sexualidade e todo esse campo social rigidamente controlado estava me fazendo suar feito um porco apavorado, eu já tiha me cortado inteiro e restava aquele zumbido JESUS TE AMA! TE AMA! JESUS TE AMA! JESUS JESUS JESUS JESUS JESUS! Eu me esgoelava na janela, mas ninguém ouvia, tava louco de verdade, que bosta, bosta. Discurso falado, repetido, calcado de uma maneira voraz, era milhões, estavam dominando, entrando pelas paredes! A igreja profere esse discurso há milênios através de tantas outras instituições e famílias, e seilámaisoque, de modo que seja trilhado rigidamente, ditando os papéis da ovelhinha de Cristo na Terra onde TUDO ESTÁ BEM QUANDO SÓ SE BUSCA A VONTADE DE JESUS. Estava mesmo louco, não tinha mais discurso nenhum. Tinha palavras trilhadas por algo muito distante de mim e minhas palavras já não poderiam circular livremente por aí. Era o Fim. E repetiam, todas as portas, todas as fechaduras e maçanetas, por entre as janelas e os porões, tudo, tudo, tudo:

O SENHOR É O CAMINHO E A VIDA, QUEM CRÊ NELE SERÁ SALVO, QUEM CRER NELE VIVERÁ.
O SENHO É O CAMINHO, A VERDADE E VA VIDA, O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA.

Eu desci e me joguei no meio daquele mundaréu de papagaios atônitos. Com a cara colada no asfalto e peito nu, eu me contorcia, mas ninguém via. Comecei a berrar. A voz não saia. Nem uma alma me ouvia. Era o Fim. E Jesus ainda me amava.

Eu me agarrei aos pêlos, aos cabelos desse deus e, sim, agora entoava aos meus ossos: CAN YOU FELL ME NOW? Não restava mais nada, eu tava lá, estirado na Avenida, estribuchando novamente feito um porco e ninguém via, a não ser os olhos curiosos das crianças que, lamentavelmente, eram fracas demais e ainda arrastadas pelos braços de suas famílias. Aos gemidos da pop art, eu recuperava, aos poucos, minha voz. Mas meu discurso já não era paupável. Era mesmo o Fim. Eu já estava nu. Nu de mim. Nu de minhas palavras. Nu de qualquer comunicação ou comunhão. Já sem perceber eu sussurrava:

INTOXICATED ME NOW WITH YOUR LOVE NOW I THINK I AM READ I THINK I AM READ NOW.

É, meu caro amigo. Quase morri na contra mão. E tudo o que iam ver, mesmo, era que atrapalhei o tráfego. Mortinho da Silva. Manoel. JesusMariaJosé.

"Rompi tratados, traí os ritos, quebrei a lança, lancei no espaço um grito, um desabafo. E o que me importa é não estar vencido.
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos.
Meu sangue latino, minha alma cativa"
?

sábado, 18 de julho de 2009

A Dama da Viola

Eu não sei lê, num sei escrevê, nunca fui na escola. que que eu fui fazê? eu fui é tocá viola."



Essa mulher vale a pena. Helena Meirelles, violeira cantora, compositora, transgressora. Nascida no pantanal do Mato Grosso do Sul em 1924, passou a vida entre fazendas e prostíbulos, desafiando uma sociedade que não admitia que mulheres tocassem instrumentos. Aprendeu a tocar sozinha e escondida aos oito anos de idade. Fugiu de casa aos 15 anos por causa de tentativas de abuso sexual por parte do pai. Teve o primeiro o filho aos 17, depois vieram mais 10. Os onze filhos que teve Dona Helena pariu sozinha. Tocava em troca de alguns trocados e comida em festas, bailes e bares ou onde houvessem ouvidos no Mato Grosso do Sul e no interior paulista. Nos bordéis, fez seu nome - prostituiu-se durante três anos. Tocou, bebeu, fumou, se casou três vezes. Fêmea brava!






Em 1980, foi apresentada por Inezita Barroso no programa “Mutirão”, que a cantora comandava pela rádio USP de São Paulo. Inezita Barroso, nessa oportunidade apresentou Helena Meirelles tocando ao vivo e mostrando seu trabalho. Inezita também foi responsável por apresentar a violeira em seu programa “Viola, minha viola”, na TV Cultura.
Entre os anos 80 e 90, Helena gravou uma fita que não recebeu grande atenção em diversas rádios.

Em 1993 um sobrinho seu enviou uma fita cassete com três músicas dela para a revista norte-americana Guitar Player - que a escolheu como a Instrumentalista revelação do ano. Logo após, foi a única brasileira que esteve entre as 100 palhetas do século, junto com Eric Clapton e Jimi Hendrix, por sua atuação nas violas de 6, 8, 10 e 12 cordas. Considerada a Grande Dama da Viola.

Poucos cultivaram a cultura musical de fronteira como ela. Helena também tocava outros instrumentos, mas foi com a viola que consagrou-se e revelou os encantos musicais pantaneiros. Com influências paraguaias, sua música seguiu os ritmos de sua região. Ficou reconhecida pelos sul-mato-grossenses como expressão das raízes e da cultura da região. Gravou quatro álbuns: "Helena Meirelles" (1994), "Flor de Guavira" (1996), "Raiz Pantaneira" (1997) e "De Volta ao Pantanal" (2003). A primeira vez em que entrou em um cinema foi para ver o documentário sobre sua própria vida - “A dama da Viola”. É também o tema de outro documentário - "Dona Helena", ambos são de 2004.

Faleceu aos 81 anos, em Maio de 2005.
Um dos absurdos musicais do que tem espalhado por esse país.

"

tanta inquietude num corpo flexível.

todo o movimento daquele ser inquieto, louco para arrebentar os moldes que pouco serviam para contê-lo. escandaloso, falava pelos cotovelos, pedia para massagiar-me a nuca, os pés, rodopiava e me levantava no ar, feito bailarino. e sentou ao meu lado, embalando um papo incoerente e desconexo, exatamente do jeito que fazia sentido pra nós dois e pra quase mais ninguém. e ali ficamos a tarde toda, alegremente. passou umas semanas e ele sumiu. não estranhei, fazia bem o tipo daqueles que gostam de rodar por aí, ignorando qualquer tipo de ordem, e algum dia voltar sem explicações. elas não faziam falta. numa tarde entediosa, onde meus companheiros esgoelavam-se para ver quem gritava mais alto, eu tava de saco cheio e fui tomar um café ali perto com uma amiga. a mais linda por sinal. cabelos cacheados, pele branca e belos seios. quase um fogaréu ambulante. mais linda ainda era quando fumávamos e ela tentava me explicar filosofia, com aqueles olhos vidrados em mim, a boca entreaberta e palavras arrastadas. mas enfim, ela não é o caso. ainda. o caso é que ele estava lá, jogado, sozinho, com o corpo envergado e dormindo. minha amiga tentou acorda-lo - nada. levantou-lhe a cabeça, mas ele não acordou e quando sua mão desapoiou sua face, ele novamente caiu. eu tentei acorda-lo. acariciei-lhe os cabelos curtos, as costas... levantei-lhe a face na direção da minha e pedi para que acordasse:
- acorda, por favor. assim você nos deixa triste.
dei-lhe uns tapinhas na cara, bem de leve. ele acordou. e olhou para mim. aqueles olhos verdes estavam desesperados. silenciosamente pedindo socorro. provavelmente ali, a tarde toda e ninguém ouviu. esses surdos. eu à flor da pele como de costume me assustei.
- o que houve com você, por que tá aqui sozinho, quer ajuda? eu pego algo pra você. mas fica bem. por favor.
abriu a boca. tinha um cheiro insuportável de álcool. não conseguia pronunciar uma palavra, mas me deu um ligeiro sorriso e voltou a cair, com a cabeça nos joelhos. aquele ser inquieto. pouco o conheci. mas a desordem nos nossos olhares se reconheceram de primeira. acho que tenho esse dom.
dei-lhe um abraço e parti com minha amiga. ela já o conhecia há uns anos e às vezes se beijavam por aí. faziam um atraente par para mim. a gente foi fumar e sempre aquele papo incendiário de deus, natureza, pensamento e cultura. e muita loucura. um assédio só. até que ele voltou. nos contou que tinha participado de algo que envolvia muito álcool e poesia e por isso estava naquele estado. sentou ao meu lado e me disse que eu era a pessoa mais linda que ele já tinha conhecido. que não era possível haver tanta bondade e identidade em um olhar e que ele me amava como irmã e queria minha companhia sempre e que eu não poderia sumir dali. eu tava numa fase estranha, de transição, de saco cheio de todo esse falatório dividido em castas e não queria saber de muita coisa além de andar de uma lado para outro. sai com ele e com uns amigos para tomar cerveja no dia seguinte. ele me contava que as pessoas tinham que libertar o Leão que tinha dentro delas: graaaww. e a gente andou por aí, repetindo isso aos cantos, ninguém nos levava a sério e sabíamos disso. mas não importava, quem falava eram nossos leões. a gente sentou em roda e ele, em perna de índio, tirou um caderno da bolsa. parecia uma criança. me mostrou uns desenhos incríveis. eu fiquei de boca aberta. eram mesmo impressionantemente expressivos. eu sentia eles tatuarem a minha pele. vários rostos. inúmeros rostos. anotou meu e-mail com um giz de cera. e sumiu. nunca me mandou um e-mail. nunca mais apareceu por onde costumava aparecer. parecia assustado também. aquela figura era única. concentrava tantos dentro dele, eu queria conhecer todos. passaram-se umas semanas e ele apareceu numa festa que eu estava. me olhou de primeira com vergonha, sabia que seu Leão muito tinha me contado. mas também sabia da identidade de nossos olhares e se aproximou, disse que era bom me ver. depois disso, a gente se cruza em algumas festas ou em alguns corredores por aí. sempre é bom vê-lo bem. ele tá quase casado, com uma mulher de aparência forte. a desordem presente na gente sempre se atrai. e arranca sorrisos um do outro. basta para nos comunicarmos.
para mim ele é um ponto de interrogação e muitos de exclamação. em poucas vezes, muitos seres manifestos naquele corpo flexível. todos esses seres se identificavam na inquietude louca de romper tudo quanto era moldura que ousasse nos prender.

domingo, 12 de julho de 2009

CAPITALI$MO & ESQUIZOFRENÉTIC@S

- vá vencer na vida, filhinha, vá vencer na vida.



me dizia aquele maldito velho já escroto, caquético, quase sem dentes.
- vença na vida, menina, vença.
ah, fodam-se. tomare que ele enfie o dinheiro e o dedo no cu. quem sabe assim ele vence primeiro essa falta de vida que falta pra morte dele. dinheiro e conseguinte felicidade? vão pra puta que pariu. se fosse mulher saberia que posso virar puta.
- o que vai fazer estudando os orixás, menina?
vou é fazer mandinga pra que esses teus míseros momentos que te restam sejam lotados de miséria. pra que esse teu probleminha de fim do mês se resuma a meter um pão na boca e um copo de água na garganta. fodam-se. já me fartei dessa merda toda. se não é isso, são os fanáticos. mas eu prefiro eles. os messiânicos. aqui nessa terra tem que ser tudo em nome de deus, mesmo.. e se já não bastasse esse medinho infeliz da perda... ahhahahaahahah medo da perda? seus bostas. quem perde a vida são vocês. lixos. escravos. do trânsito. da moda. do orgasmo forçado. e ainda me vem com essa politicazinha suja, imunda, falsa.. hipócritas! militantes do medo, da mentira, cheios de pulinhos e de biquinho fechado, só aberto pra espalhar da piadinha alheia hihihi. corrosão maldita, queime essa merda toda, se consideração se resume a isso eu prefiro arder no mármore do inferno e descolar uma boa trepada com o diabo.


M E R D A !


se ao menos dessem ouvidos a todo esse falatório desordenado, a todas essas cabeças se espremendo pelos cantos, a todo o vento engolido pelos prédios, a toda boca que só cala, todo ouvido que só ouve, a todo calo nas mãos, a todo sorriso sujo de feijão, a todo pé descalço, a todo desespero alijado nas bocas cotidianas, a toda lágrima que cai muda e sozinha porque se conserva medo, moral e razão. e culpa. se ao menos ouvissem os (en)cantos agonizando em solitarias mentes por puro movimento vadio e perdido. é essa maldição que engole e cospe mantendo todo esse (des)esquilibrio vadio entre inclusão e exclusão. chega.


agora? senta e chora.
castigo-te por buscar.
era melhor se calar.



vomitar esse tédio todo por algum canto escondido. onde só estejam os porres, as porras, os restos e os rastros. mais uma fábrica abandonada tomada pela escassez desses malditos dias que soam em frenéticos tictacs alucinados, desnorteados. eu prefiro me perder! e repetir incansavelmente essas palavras febris e cíclicas.. do que dançar nessa folia de "mão com mão, pé com pé". palavras mal escritas, palavras mal ditas. antes fossem esquecidas e digeridas? mas não desce! e se desse, eu enfiaria o dedo na garganta à sua busca. já não se sabe se levanta a cabeça e acha a luz ou se abaixa e morre. seria mais um nu a beira da marginal tietê, mais um número, mais um cadáver indigente - sem documento não é gente, sem documento não é gente... o caralho! Direitos? direito eu tenho é de me matar até a morte. e caio no funkfilosófico do "destrói com a História, acaba com a moral". gaguejo!! em vez de sujar minhas mãos de $angue... parar e respirar e ser atropelada por mais um apressado atravessado. olhar para o lado e só achar hipocrisia, autoridade e covardia, edifícios, bancos e artilharia! vou é me encantar! onde se esconde o palavreado febril dos bêbados, o suor afoito dos amantes, o embalo tresloucado dos apaixonados, a fé dos carentes, a curiosidade das crianças, a espontaneidade dos animais, a ousadia dos desobedientes. "destrói destrói destrói com a História, acaba com a moral"..


AFASTA DE MIM ESSE CALE-SE!!!
senhor cidadão, filhodeumaputa, venha cá e me diga quantas toneladas mais de medo e covardia você vai despejar na construção da tradição? senhor cidadão, me diga o porquê.. se o dia todo você passa, bate e volta, vai e vem - e já parou pra reparar quantos gritam ao seu lado? já parou pra reparar que aquele montaréu de papelão que você desviou é mais um coração perdido? já parou para ver as lágrimas escorrerem pelas paredes dos velhos e nostálgicos edifícios arruinados? já parou para tentar achar coerência ou ao menos carência na fala daquele louco que estribucha na tua esquina? já parou pra pensar nessa boçal "civilidade" em que vc desvive? já parou pra se tocar que vc enche o cu de propriedade e teu empregado não tem teto?
senhor cidadão me diga o porquê de você andar tão triste. é porque na briga eterna desse mundo tem que ferir ou ser ferido?






- MA$ QUANTO VALE ISSO, MOÇO?

sábado, 11 de julho de 2009

A FUNDO? UM MUNDO IMUNDO...

Eu ficava ali espremida no colchao velho e úmido. Quartinho dos fundos, escuro e abafado, banheiro entupido e torneira quebrada. O cheiro era uma mistura de cigarros, cerveja, maconha e resto de fogueira. Mas quando olhava para o lado, era ele quem dormia... Tão profundamente adormecia que aquela atmosfera densa e imunda mal parecia o incomodar. Continuava com a costumeira expressão doce, os olhos baixos e aqueles lindos cabelos negros, lisos e oleosos escorrendo-lhe à face. Encantava-me como sempre me encantou, com aquele olhar inconformado e, para os cantos, um ouvir aguçado. Conservava um jeito sagaz, puro e ousado que eu nunca tinha chegado nem perto de provar. Além disso, tinha um desenho de boca escultural e sempre que adormecia ao meu lado eu acariciava-lhe os lábios com meus dedos, suavemente, até adormecer também... Na primeira vez em que nos vimos, mal olhou para mim. Abaixou levemente a cabeça e se concentrou em juntar as cinzar dos cigarros com uma bituca velha. Parecia-me tão distante, com pensamentos esvoaçantes, embalando-o num caminho sem fim... Muito eu fiz para erguer aquele olhar. Descobri que gostava das flautas e que elas o faziam bem. Eu fugiria com ele para qualquer lugar! Sertão do Maranhão, interior do Afeganistão, seilá. Tinha vontade de passar tanto tempo ouvindo ele falar... Tinha uma loucura tão lúcida que me aguçava os ouvidos. E uma sede que me despertava para todos os sentidos. Além disso, pouco se comparava a envolver-lhe um dos lados de seu rosto com a palma da minha mão. Quando sorria, eu escorria. Quando sozinhos, tinha um embalo de Leão, um despertar cheio de tesão. E um olhar que dilatava qualquer paixão. A nossa atração pelas ruínas era assumida: do quartinho dos fundos à sua pequena pensão, acolhedor cubículo sem janelas ou lençóis, com um ar que parecia neblina. Mas a gente se ajeitava como ninguém... Fumávamos os fumos que le emesmo preparava e nos amávamos num contato sem igual - em poucos movimentos, me elevava aos céus. Costumávamos nos acariciar feito dois gatos, roçando face na face, nariz na boca, boca na nuca e por aí vai..
Às vezes ele some. E eu fico aqui, conservando uma proveitosa saudade, recordações esquecidadas e seu delicioso gosto encachaçado de dúvidas. E eu sei que quando ele volta a gente naturalmente se enrosca por entre mares e bares, paixões e ilusões. Acaba cadente em algum canto decadente e dormindo agarrado a algum mundo imundo..

MAIS UM

Ele chegava aos poucos, admirava longamente a paisagem. Sorria ao rio, olhava as plantas. Costumava ficar por entre as pedras da montanha, olhando para as águas. Era Presente como poucos... Corria rápida mente de um lado para outro quando afoito. Mergulhava de cabeça. Passava longas horas sozinho a desfazer antigas cartas. Pensava em fugir; em renascer; em morrer. Falava-me da sobrinha que conheceu nos Andes, dos grandes peixes que caçou pelos mangues. Quando tocava flauta me lembrava um enorme pássaro. E me aparecia sempre àquele belo entardecer, com um lindo costume de me dizer rimas livres, arrancar-me um sorriso e pedir para que, juntos, olhassemos o Mar guardar o Sol. É claro que eu ia. Flutuando! Era ao mesmo tempo tão doce, tão leve - tão tentador, tão caça dor. Parecia até feitiço. Seu nariz era longo, feito de um cigano. Possuía uma grande tatuagem que quase cobria-lhe as maravilhosas costas. Mulato avermelhado, ainda conservava uma mistura cabocla, de lisos e longos cabelos. Aquela mistura toda me alucinava! E ainda tnha uma envolvente voz rouca que me entrava à pele, me entoava aos ossos. E quando desacanhava a cantar, parecia presença de Xangô. Em canto dos trovões! Me contava do axé, do xirê, das plantas que curariam meu ferimento. Dos tantos mares distantes, das paixões cantantes, do meu passar flamejante. Dos enganos constantes. Era engraçado quando punha-me a mão no queixo e comentava a minha expressão de raposa onírica. Apesar da aparência forte e animalesca que conservava, dos enormes ombros e forte dorsal, só assustava quando levemente cerrava as sobrancelhas e pouco desenrrugava as bochechas sorridentes. Eu sabia que era perigoso navegar por esses traços, poderia me afogar naqueles olhos... Mas evonvia seu canto, puro encanto:
Mais um
Só mais um
Aí eu paro.

OLHOS DE LEITE

Dentre tantos olhos, era o seu que fitava por mais tempo. Seus olhos eram pequenos, alegres, sorridentes. E, envolvidos por entre aquela barba, mais ainda. Ah, naquelas barbas eu perdia minhas mãos durante as madrugadas em que passávamos juntos. Aquele gingado de capoeira... E suas lindas costas não negavam: branco de cor, eu preta de alma. Aquela movimentação me lembrava possessão. Pouco me olhava nos olhos. Também, nem dava tempo. Mas quando paralisava, não aguentava - sabia que escorria junto às minhas íris.E apesar de corpo junto e pescoço quente, cultivava uma pitada ridícula de orgulho que me atiçava ainda mais os sentidos. Era lindo! Conversa baixa, canto alto. E quando metia-lhe as mãos por entre os cabelos, perdia o teto, chegávamos às estrelas. Conservava um olhar ao mesmo tempo tímido e sacana, me deslizava à nuca com facilidade. Pudera! Naqueles laços me emaranhava noites seguidas. E fluíamos feitos longos dias de chuva. Depois de tanta tempestade, voltava a enxergar naquele olhar um arco-íris. Mas aquele sussurrar eterno me entediava, em vez de faísca, era preciso um fogaréu! E eu gritava! E de tédio em tédio me arrastava dias e dias, feito roleta. Era só acariciar-lhe a face... Façanha! Eu ali naquele ciclo todo, sempre dava um jeito de sorrir. Era fato, não se escondia. Ainda bem. Sabia que ao sorriso não achavam barreiras. Derretinham-nas, não retinham-nas. Continha-me? Nada! DELEITAVA! Mesmo sem nunca ter encontrado o branco rouco naqueles olhos...

domingo, 5 de julho de 2009

À La Jaques Derrida

No interior da Democracia ~ legitimação da escassez do Direito:
Uma Democracia para além do Estado de Direito.

cons tru ção
de sc ons t r u tiv a
desconstrução construtiva.

(a m p l i a ç ã o
apartirdotensionamento)

Justiça Angustiada: ANGÚSTIA.
~ desatrelação à Legalidade:

vínculo social como conflito?
instituições sociais instáveis - possível reconstrução.
superação do medo da instabilidade.

Democracia Dinâmica!
discurso circulando, conceituação, criação, desconstrução:
distanciamento entre enunciado e enunciador
~simulacros.

cheios de problemas:
- objetividade leal e rápida é o caralho!

da representação à presença:
distância POTÊNCIA_ATO

responsabilidade infinita infinita responsabilidade infinita
simples, claro e caro!
de herança bíblica, aguardam a solução final,
como nos tempos de juízo final.


------->VIOLENTA MENTE<-------
suspenda o Direito para fundar algo direito!


des articul ação entre fundamento e fundado:
"toda ação coletiva é individualizada, toda ação indvidual é coletivizada."

PERIGO! PERIGO! PERIGO!
só nesse valor absoluto pe que o futuro pode se antecipar?
vê-se o fim de uma era e não propriamente o início de outra.
PERDIDO! PERDIDO! PERDIDO!

O QUE?!?!?!?! SEM SUJEITO?!?!?!?!
_campo transcedental_


TRAÇO: marca da multiplicidade.
dissolve a noção de objeto
traços de significantes sem sistemas
podem recriar-se a qualquer objeto


AO INVÉS DE SIGNO,
TRAÇO.

ENCANTOS

eu prefiro falar com os cantos!
mas o que sempre ouço
são cantos
encantos

eu prefiro falar em cantos.
é claro que havia de brotar!
em meio às tantas perguntas,
mudas respostas.
quem sabe se ao menos
ecoassem de maneira menos sinfônica...
mas não.
alimentam-se é de confusão.
antes movessem de tesão.

INGRATA PRONTIDÃO!!
morra afogada em teu pão,
pronta ingratidão!
esgane-se em tua própria mágoa,
ágora da dor.
enquanto isso,
finjo que não ligo,
digo que não sei.
viro a cara,
tampo as narinas.

malditas.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

na real? HIPER REAL!
parecem urubus.

eterno jogo
não mais de sorte
cada um toma seu pedaço

alguns resmungam
outros
só letram

S-O-L-E-T-R-A-M

há os que pedem
índice
aprovação

outros gritam


- S O C O R R O !
NOS NEGROS
OLHOS VERDES
HÁ FLORIR

QUEM SABE
EM PARTES
ÀQUILO QUE SEGUI

(BUSQUEI?)

PERDIDA MENTE
DESESPERADA MENTE
APAIXONADAS MENTES.

(A CURIOSIDADE ME É FRATERNA)

MAS CURIOSA MENTE
E CADA VEZ MAIS
À CURIOSA MENTE




NA REAL?
ME LEMBRA URUBUS.

É MIGALHA ATRÁS DE MIGALHA
É MIGALHA QUEM TRÁS MIGALHA!

EU PREFIRO FALAR COM OS CANTOS!

dessa forma
as palavras
me com fundem
ao silêncio
mas não silencio.

os cantos abraçam
os carentes
das eventuais
simbolizações.

nos cantos
as pessoas reparam
e fecham os olhos
para ler.

escutam
com seus olhos
sempre baixos
o que não posso ver
mas sempre busquei
sentir.
entre as paredes daqueles edifícios morava a desesperada dor de se fazer sorrir em meio às ingratidões. na esperança sempre mora um monte de gente. de ilusão ou desilusão? foda-se. fico com a paixão.

loucos para dar solução?
não..

desses inconformados,
fico com os apaixonados.
até me culpo
por fazer das palavras
mais um meio
de consolo.
tristes,
vêm ao meu encontro
sutilmente
deixando-nos atentas
aos pingos de dor
que escorrem
fartos
por meandros
a pairar.