sábado, 18 de julho de 2009

A Dama da Viola

Eu não sei lê, num sei escrevê, nunca fui na escola. que que eu fui fazê? eu fui é tocá viola."



Essa mulher vale a pena. Helena Meirelles, violeira cantora, compositora, transgressora. Nascida no pantanal do Mato Grosso do Sul em 1924, passou a vida entre fazendas e prostíbulos, desafiando uma sociedade que não admitia que mulheres tocassem instrumentos. Aprendeu a tocar sozinha e escondida aos oito anos de idade. Fugiu de casa aos 15 anos por causa de tentativas de abuso sexual por parte do pai. Teve o primeiro o filho aos 17, depois vieram mais 10. Os onze filhos que teve Dona Helena pariu sozinha. Tocava em troca de alguns trocados e comida em festas, bailes e bares ou onde houvessem ouvidos no Mato Grosso do Sul e no interior paulista. Nos bordéis, fez seu nome - prostituiu-se durante três anos. Tocou, bebeu, fumou, se casou três vezes. Fêmea brava!






Em 1980, foi apresentada por Inezita Barroso no programa “Mutirão”, que a cantora comandava pela rádio USP de São Paulo. Inezita Barroso, nessa oportunidade apresentou Helena Meirelles tocando ao vivo e mostrando seu trabalho. Inezita também foi responsável por apresentar a violeira em seu programa “Viola, minha viola”, na TV Cultura.
Entre os anos 80 e 90, Helena gravou uma fita que não recebeu grande atenção em diversas rádios.

Em 1993 um sobrinho seu enviou uma fita cassete com três músicas dela para a revista norte-americana Guitar Player - que a escolheu como a Instrumentalista revelação do ano. Logo após, foi a única brasileira que esteve entre as 100 palhetas do século, junto com Eric Clapton e Jimi Hendrix, por sua atuação nas violas de 6, 8, 10 e 12 cordas. Considerada a Grande Dama da Viola.

Poucos cultivaram a cultura musical de fronteira como ela. Helena também tocava outros instrumentos, mas foi com a viola que consagrou-se e revelou os encantos musicais pantaneiros. Com influências paraguaias, sua música seguiu os ritmos de sua região. Ficou reconhecida pelos sul-mato-grossenses como expressão das raízes e da cultura da região. Gravou quatro álbuns: "Helena Meirelles" (1994), "Flor de Guavira" (1996), "Raiz Pantaneira" (1997) e "De Volta ao Pantanal" (2003). A primeira vez em que entrou em um cinema foi para ver o documentário sobre sua própria vida - “A dama da Viola”. É também o tema de outro documentário - "Dona Helena", ambos são de 2004.

Faleceu aos 81 anos, em Maio de 2005.
Um dos absurdos musicais do que tem espalhado por esse país.

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