sábado, 11 de julho de 2009

MAIS UM

Ele chegava aos poucos, admirava longamente a paisagem. Sorria ao rio, olhava as plantas. Costumava ficar por entre as pedras da montanha, olhando para as águas. Era Presente como poucos... Corria rápida mente de um lado para outro quando afoito. Mergulhava de cabeça. Passava longas horas sozinho a desfazer antigas cartas. Pensava em fugir; em renascer; em morrer. Falava-me da sobrinha que conheceu nos Andes, dos grandes peixes que caçou pelos mangues. Quando tocava flauta me lembrava um enorme pássaro. E me aparecia sempre àquele belo entardecer, com um lindo costume de me dizer rimas livres, arrancar-me um sorriso e pedir para que, juntos, olhassemos o Mar guardar o Sol. É claro que eu ia. Flutuando! Era ao mesmo tempo tão doce, tão leve - tão tentador, tão caça dor. Parecia até feitiço. Seu nariz era longo, feito de um cigano. Possuía uma grande tatuagem que quase cobria-lhe as maravilhosas costas. Mulato avermelhado, ainda conservava uma mistura cabocla, de lisos e longos cabelos. Aquela mistura toda me alucinava! E ainda tnha uma envolvente voz rouca que me entrava à pele, me entoava aos ossos. E quando desacanhava a cantar, parecia presença de Xangô. Em canto dos trovões! Me contava do axé, do xirê, das plantas que curariam meu ferimento. Dos tantos mares distantes, das paixões cantantes, do meu passar flamejante. Dos enganos constantes. Era engraçado quando punha-me a mão no queixo e comentava a minha expressão de raposa onírica. Apesar da aparência forte e animalesca que conservava, dos enormes ombros e forte dorsal, só assustava quando levemente cerrava as sobrancelhas e pouco desenrrugava as bochechas sorridentes. Eu sabia que era perigoso navegar por esses traços, poderia me afogar naqueles olhos... Mas evonvia seu canto, puro encanto:
Mais um
Só mais um
Aí eu paro.

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