sábado, 11 de julho de 2009

OLHOS DE LEITE

Dentre tantos olhos, era o seu que fitava por mais tempo. Seus olhos eram pequenos, alegres, sorridentes. E, envolvidos por entre aquela barba, mais ainda. Ah, naquelas barbas eu perdia minhas mãos durante as madrugadas em que passávamos juntos. Aquele gingado de capoeira... E suas lindas costas não negavam: branco de cor, eu preta de alma. Aquela movimentação me lembrava possessão. Pouco me olhava nos olhos. Também, nem dava tempo. Mas quando paralisava, não aguentava - sabia que escorria junto às minhas íris.E apesar de corpo junto e pescoço quente, cultivava uma pitada ridícula de orgulho que me atiçava ainda mais os sentidos. Era lindo! Conversa baixa, canto alto. E quando metia-lhe as mãos por entre os cabelos, perdia o teto, chegávamos às estrelas. Conservava um olhar ao mesmo tempo tímido e sacana, me deslizava à nuca com facilidade. Pudera! Naqueles laços me emaranhava noites seguidas. E fluíamos feitos longos dias de chuva. Depois de tanta tempestade, voltava a enxergar naquele olhar um arco-íris. Mas aquele sussurrar eterno me entediava, em vez de faísca, era preciso um fogaréu! E eu gritava! E de tédio em tédio me arrastava dias e dias, feito roleta. Era só acariciar-lhe a face... Façanha! Eu ali naquele ciclo todo, sempre dava um jeito de sorrir. Era fato, não se escondia. Ainda bem. Sabia que ao sorriso não achavam barreiras. Derretinham-nas, não retinham-nas. Continha-me? Nada! DELEITAVA! Mesmo sem nunca ter encontrado o branco rouco naqueles olhos...

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