sexta-feira, 13 de março de 2009

EM CORTINAS DE VELUDO

Já não sei mais se é sede ou se é preguiça. Se é cansaço ou deslumbro. O antagonismo é tanto que as semelhanças se difundem, confundem. E sege a si mesmo, persegue sua sombra, travestida de eterna quarta-feira de cinzas. Confusão, não? De difícil movimento, aqui a pálpebra pesa mais do que o normal. E as mãos também. A puxar os braços, desequilibrar o corpo, cambalear por aí. Não dá certo, não, nada encaixa. Acho melhor nas coxias, ou apenas nos bastidores, quem sabe mesmo na platéia, ou na arquibancada; no júri! Estou farta disso, não sei se o que se vai e o que esvai, ou se sobe, desce, pede ou repulsa. Tédio. Já não bastava a estaticidade cotidiana? E quanto mais movimento se tem, maior grau entediante. Dê-me este teu isqueiro. Dê-me. Darei a luz. Vou atear fogo nos colchões. Defenestrar grilhões. Estourar essas escórias. A vaga se retira é daqui, onde todo tempo é tempo de ressaca. Chega. Nem mais uma cabeça se entopindo nas janelas pela frente, ou pelos lados, pela culatra, pela guela abaixo. Nem mais uma voz invadindo minha visão, nem mais um cubo de gelo a derreter pelas pias, nem mais uma piedade barata ou sandália havaiana gasta. Nada de guarda-chuva perdido. Nada de amor esquecido. Todo embriaguez, amaldiçoada. Já disse sobre atear fogo nos colchões? Maldita é a luz que passa entre o vão dessas cortinas. Louvei-a! Louvei-a! Minhas cortinas cotidianas, meu veludo corriqueiro, arroxeamento do paiol: Salvai-me!

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