sábado, 3 de outubro de 2009

METALINGUAGEM

minha poesia
não é de prática
minha poesia vem
do vento
lá de dentro
tocando o advento
minha poesia não é
um coro
tão pouco espera receber
louro
minha poesia vem do meu
devaneio mais
louco
sem jogo, sem cara ou coroa ou
lado inverso
apenas dá as caras quando
brota sem lugar algum
vem como súplica
como ferimento
ou um adeus,
meu alimento
me faz escuro
me faz claro
me faz sentimento
me faz sentidor
minha poesia canta
minha poesia lança
dança, pega, mata e come
chora, grita, corre,
adoece e morre.
minha poesia flore
até aqueles lá
mais distantes
meus domínios indomáveis
fere e adere
a todos os meus sentidos
antes esquecidos
minha poesia fura o verso
cai do baixo
sai do faixo
baixio das bestas
sente saudade
dos meus contos,
dos meus cantos,
dos meus encantos
antes esquecidos
agora enraivecidos
apodrecidos
ao meu pranto parecidos
minhas tristezas, minhas avarezas
todas as minhas correntezas
pudera
minha poesia
é meu cárcere
é meu cálice
é também meu cale-se

minha poesia
é meu ar
é meu mar
de se armar
de amor
de dor
ou ardor

minha poesia
aquela lá que me libertou
do chão me tirou
comigo para longe voou
até aterrizar
devolta a ela mesma
minha poesia é meu lar
que a cada amanhecer
me faz órfã
a fim de que eu a encontre
e nos seus braços possa
correr e
morrer
viver, esquecer
libertá-la para, junto com ela
parar e
saltar
"num altar
onde a gente celebre
tudo o que se consentiu"
minha poesia tão pouco
busca o verso certo
ou espera encontrar
a paz depois de escrita
minha poesia tem vida própria
prosopopéia lírica
sai de mim
na hora em que pra ela alvorece
passeia por aí e
até me esquece
mas ela sempre volta.
a gente sempre torna
aos braços
uma da outra
como se então não houvesse
desencontro
desencanto
desalento
minha poesia não é minha
mnha poesia é da espera
por ela mesma
minha poesia é dela própria
e eu que sou sua eterna apaixonada
tantas vezes traída
muitas mais amada
minha poesia nunca teve dono
minha poesia é inquieta
sai de mim na hora que
ela mesmo quer
e encontra logo algo onde
possa então se realizar
e sua realização é simples:
é apenas sua existência
ela basta-se por si só
é por isso que
não encontra resistência
mas, haja paciência!
quando ela some
as horas me corroem
os tempos me enlouquecem
os soares me ensurdecem
meus dizeres me calam
é minha grande agonia
afoita ou desesperada
não adianta em nada
ela só aparece quando quer
só ressoa onde der
não importando o que se fizer.

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