sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

São Paulo



- devaneio.
não perca seu tempo. não faz sentido. é incoerente. desconexo. e pode ser invasivo.


eu fiquei pensando aqui, por dias, na oportunidade anseada em abrir essa página, vir aqui, escrever coisas sem sentido, ou coisas querendo ter sentido, coisas querendo não ter sentido... ah, que puta blábláblá! não foi nada disso de contemplação, de abre aspas, dois pontos, citações, por obséquio. o negócio agora é pá. eu andei pensando por aí, vagando por lugares e contando um conto a mim mesma, daqueles assim numa subjetividade imensa que só pode sair de você a partir de alguma maneira que você ainda não descobriu. porque, vou te contar, escrever tá foda. eu fico pensando assim, a esmo, pensando em colocar no papel, mas, peraí, não dá. os tempos são outros, não se pode mais passar a velocidade das idéias à risca sobre uma folha de papel. o negócio é diferente, as coisas estão mais velozes, já é velha essa história de museu de grandes novidades. e, meu deus, antes eu cotumava vir aqui e escrever coisas pseudo-sociais, agora eu venho aqui e só quero é saber de mim, a subjetividade é mesmo uma merda, foca o mundo todo em você e no seu umbigo e na sua visão, eu sabia que o mundo ia acabar assim, cada qual com seu james brow, é sempre assim. e ainda querem dizer que a arte ahahahha tá, eu confesso, eu vim aqui só pra destruir mesmo, afinal, eu não construo coisa alguma. venho aqui, coloco umas fotos estranhas, uns quadros expressionistas, umas frases desconexas e acho que estou construindo algo. ah não. o negócio agora é a descontrução, entendeu? desconstrução. demolição. pilastras abaixo, galo na cabeça, colunas caindo, madeiras em chama. ora "mas que mulher indigesta! indigesta! merece um tijolo na testa!" mas, vamos lá. ponha-se no seu devido lugar, com seu arcabouço intelectual brasando na flor da sua curiosidade e mocidade. agora, abra aspas, coloque um sugestivo dois pontos - ready? - segundo Luiza Haddad, antropóloga e socióloga pela Universidade de São Paulo, pesquisadora na área de antropologia urbana... haahahah aí é capaz de ter gente que finge que me ouviria. o ser humano é mesmo um cara engraçado e desgraçado e sem-graça, adora se fantasiar de qualquer coisa e louvar as fantasias que usa ou que os outros usam, eterno carnaval, se fantasia do que for mas se fantasia é de lixo puro, já explodiu. mas seria a mesma coisa, a mesma mente, a mesma formação. ia mudar o número de livros que eu li, as experiências quer tive. eu poderia vir aqui e citar grandes filósofos do pensamento contemporâneo, poderia falar que segundo o diretor bibibi no filme bababa e fazer uma ponte com os conflitos no cáucaso. mas, e quê? como diz o velho saramago, e quê? e nada. nadinha. nadica de nada. eu estaria aqui a dizer coisas ao léo, como estou agora, só que mais pompadas, cobriria o bolo de merda com chocolate e você se deliciaria, lamberia o prato e os beiços, rasparia a fôrma com seu dedo indicador. agora, por que não me ouve? vamos lá, sinceridade é o que há (na verdade é o que não há), ninguém se ouve. parei com essa de achar que as pessoas ouvem outras, elas ouvem é seu próprios ecos em frequências ajustadas a seu ouvido. é isso aí. e falo também que se eu falsse isso, entre aspas, inventando qualquer citação prolixa, de uma maneira mais pomposa como "na atual situação, o ser humano limita seu campo auditivo apenas no que ecoa de seu próprio Eu" você ia achar que acabou de ler a nata da psicologia moderna. ah, grandesbosta. e eu fico por aí, gritando pelos cantos, me arrastando por aí, rastejando, comendo migalhas escondida, não ouvindo ninguém de verdade, falando coisas repetitivas. e eu inventei uma estética, chama-se (han,han) Estética da Repetição. será que alguém já inventou? mas pense nela com carinho, é tudo repetição, até seus pensamentos, presos a um ciclo sem fim. - oi, eu tenho minha própria estética (acende um cigarro e solta a fumaça rapidamente, olhando para ela): Estética da Repetição hahaha sou eu, é você, são todo mundo junto, ele, eu e você sou eu. lembra? e eu ando ouvindo apenas aquilo que traço no meu roteiro do que quero ouvir - hoje, observarei os meninos de rua. Olha lá, quantos, quantos! enquanto fechei os olhos pro resto. é assim, escolho o que olho, o que ouço, o que os outros falam. isso me incomodou desde sempre, costumava me inquietar e querer abraçar o mundo, entender tudo e todos. e quê? e quê? e nada. é assim, eu interrompi meus pensamentos pra tentar criar algo aqui que não leva a nada, mais um túnel que o carcereiro deixa inacabado na sua já incontável tentativa de fuga. acabou que eu decidi que o negócio agora é metralhar idéias e pontos de vista, vomitar concepções ou não-concepções, sem acabá-las ou desenvolvê-las necessariamente. pápápá: idéias contrução imagem palavra idéia visão um cão. é assim. vou lançar frases ou palavras, pronto? CICLO. MARKETING. ENCRUZILHADA. pensou, pensou? ou senão eu posso vir a criar coisas pela metade, por exemplo: toda busca bela igualdade é hipócrita, pois a aceitação da diferença vem depois de reconhecida a semelhança (pense nisso). outra: a foto inicial traça caminhos conformes. pronto. não acabei, nem desenvolvi nada. faça você mesmo ahahaha eu cotumo ler livros até o finalzinho e não ler o final, às vezes eu odeio o final, já criei o meu final, ou não criei final nenhum, não quero que o cara termine por mim. apenas a antropofagia nos une, lembra? aí eu uso o autor, sugo seu enredo e o final ponho eu. um anti-final, uma anti-arte, um anti-filme blábláblá que falatório desordenado! peraí né. eu já disse aqui que toda verdade é válida. isso aqui não é verdade porra nenhuma, é pura modificação, já disse, daqui a oito minutos odiarei isso daqui, quem fez essa porra? quem disse isso? esquizofrenia pura, queime essa merda, DELET. hoje eu andei pela Avenida Paulista. em minha primeira saída como paulistana oficial. uhul. agora sou moradora da maior metrópole brasileira uhul que legal, que mundos, que leque, que economia, que discrepância uhul São Paulo!!! aí eu sentei ali no vão do MASP, junto com mais uns trezentos negos, um executivo fumando seu charuto e um fantasma esfomeado ao meu lado esquerdo, com seu pano estranho um dia branco. aí sempre tem aqueles caras com uma pinta descolada, que tipo-faz-fotografia ou tipo-faz-cinema ou tipo faz-artes-plásticas ou tipo-faz-FFLCH com suas roupas descoladas, cabelos penteados estrategicamente para parecerem despenteados, suas sandálias arcaicas ou moderninhas demais, livros acidentalmente caindo pelas sacolas que eles insistem em chamarem de bolsa, com suas câmeras maneiras de preço salgado, registrando os arranha-céu, ou as ruas, ou essa gente e mais gente. aí me aparece um ser com um carrinho de feira abarrotado de coisa. era uma mulher. sim, existem mulheres além desse bonequio que você vê em massa pelas ruas. os bens dela eram reduzidos a: seu carrinho de feira. suas propriedades: no carrinho de feira. anotações: no carrinho de feira. alimentos: carrinho de feira. roupas: carrinho de feria. tudo era no carrinho. tudo era o carrinho, o carrinho era tudo. eu até pensei em reduzir meus bens a um carrinho de feira, seria no mínimo interessante e prático, teria sempre tudo o que tenho à mão, a gente vive tendo coisa e mais coisa e nem cabe no nosso alcance. e o executivo acende mais um charuto e vem aquela fumaceira toda, junto com a fumaceira do baseado da turminha ao lado. o quê? eu traguei São Paulo! cof cof. e a fumaça (voz de quem prende a fumaça) virou: A Avenida Paulista: plaft! eu poderia achar um ruído melhor para a aparição da Paulista. vamos lá, tentando novamente. A Avenida Paulista: PÃ. bem seco. é isso aí. agora o fantasma esfomeado e sujo se levanta, despe-se de seu luxuoso lençol de algodão egípcio e ruma à sua terra. e eu? brigada papai, agora posso morar em São Paulo hiihhiihihihih os cara tão achando que é pra qualquer um. na selva de pedra todos querem sobreviverr mané. que nada vai. chega. sem definições por enquanto. tem de tudo, de tudo tem. o foda é estar sozinha na casa de noite e ter que ouvir o barulho dos seus chinelos arrastando pelo chão, ou do seu próprio pé, empoeirado e sujo, seco e áspero, se arrastando pelos cantos da casa. isso é terrível. e ainda tem as unhas. unha é feio pra caralho. não adianta você me vir com sua bela mão pintada. poha, isso não é unha. se ouvir é terrível. não ouço nem a mim mesma, notei isso. agora ouvirei. gravando: minhas mãos, anexas a um corpo desrumado, roçando pelas paredes da casa, quase que fundindo-se a elas, no decorrer de todo o perímetro da casa. ai! que coisa enlouquecedora. o negócio é estar no meio. e meio não é mais metade. meio é meio, saca a diferença? e pode ser meio do começo, meio do fim, meio do começo do fim, o que importa é estar no meio, o que importa é a goma, porque depois que tu mascar vai é cuspir tudo. e tenho dito. depois de nadar tanto, não vem litoral nenhum. o legal é nadar.





(Palavra faz tudo. aqui Lu é verbo, advérbio e todos os sujeitos.)

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