segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

These songs of freedom...

Tudo fazia-se novo a cada instante. Os cheiros. O ar. O gosto da experimentação. A vontade de cantarolar pelas esquinas. Acreditar em único abraço. Fazia-se o Desejo. E agora provava de olhos fechados. Sentia-se libertar. Das raízes umbilicais. Do leito maternal. Do conforto casual ou das escórias primitivas. Já não era mais necessiatado de todo aquele aval. Podia rugir, rosnar, ruir, zumbir, falar por aí. Gritar no universo. Transitar em terras nunca antes habitadas ou transcender em gesto, em som, em sombras. Agora podia tudo. Esbanjava saúde e boa aparência. Dinheiro e a boa e velha inocência. E então fazia-se Deslumbro. Os olhos escancarados. Boca aberta. Mãos eufóricas, cabelo despenteado. Não tinha começo, nem meio, nem fim. Era o Momento, vivia o Instante e até esquecia do passado, nem pensava no futuro. Apenas o Sol a nascer indicava um novo dia. Ou a Lua que surgia, a estrela caia, a maré que baixava novamente. O vento beijava-lhe a nuca, como que em vertigem de fotografia. E o Sol dourava-lhe a face, os ares exprimiam suas sensações. E os mares apontavam caminhos possíveis e imaginários, distantes e nunca solitários. Até o Vazio era digna Companhia, tudo era parceria. A Terra girava suavemente. E dava pra ver seu movimento pelas nuvens. E as nuvens eram grandes aldeias, antigas civilizações, bonecos dançantes, animais flutuantes, plantações verdejantes. O verde das árvores exalava um aroma nunca antes degustado e os raios de sol que ao amanhecer entravam pela cortina, anunciavam seu despertar, lento e gradual, confortável, especial. De manhã sentia aquele friozinho de neblina, mas logo aquecia-se com o chá matinal. A conversação era fluida, a linguagem natural. A comida era simples, o preparo uma confraternização. Um espetáculo de temperos, uma dança de aromas, explosão de sabores, mistura de amores. E a cada passo, uma nova descoberta, uma nova aprendizagem, um novo pássaro a ecoar seu canto pelos mares e ares. O Sol vinha como que dono da situação, ardendo em chamas no reino Celeste, coloria a água da lagoa, às vezes pingava em garoa. Quando cansava de tanto espetáculo, descansava nas águas, dormia nos mares. Então era a vez da Lua. Radiante, luzia em Solo ou entre as nuvens. Iluminava as pedras. E os Reis eram os Astros, que por vezes brincavam de se alinhar. Então, o Sol, a Terra e a Lua dançavam juntos, de mãos dadas, braços entrelaçados. E a sombra da Terra cobria a Lua, parcialmente, finalmente totalmente, num ápice negro, num piscar demorado. O reflexo nos mares não existia nesse instante. Mas logo a sombra terrestre parava de brincar de esconder a Lua, a luz da Lua. Tornava a iluminar barcos, bairros, praias e estradas. E assim seguia a Vida, numa brincadeira entre a luz e a sombra. Todos falavam a mesma língua - língua de Gente. E Ninguém tinha cheiro de flores - tinham cheiro de Gente. A Terra acolhia o passado e o futuro no presente, tinha espaço pra todo tipo de tempo e temporal, como num grande abraço digno de oferecer. Ourives da Vida, acolheu a Diferença, apontou a Semelhança. Constrói Identidade a partir dos fragmentos da Disparidade.
Salve mãe África, grande berço do Mundo.

E a vontade de voltar e tornar a descobrir toma-me em instinto. Faz-se necessidade nostálgica secularmente herdada, de migrar para o lugar de onde veio a Vida. É lembrança transportada nos genes, ânsia de voar para casa, como fazem as andorinhas...

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